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Audiência sobre cotas raciais na UERJ acaba em troca de socos entre deputado e estudantes

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Uma audiência pública sobre cotas raciais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro realizada nesta segunda-feira nas dependências da faculdade terminou em confusão entre parlamentares e estudantes. O evento tinha participação conjunta das Comissões de Ciência e Tecnologia, Educação, Direitos Humanos, de Combate às Discriminações e Especial da Juventude da Alerj. Na saída o deputado estadual Alexandre Knoploch (PSL) foi flagrado pela Rede TVT, com imagens exclusivas, dando um soco em um homem que seria estudante. Nas imagens também é possível ver um segurança armado.

A briga ao final do evento aparece no vídeo aos 2 minutos e 40 segundos.

Na saída da audiência Knoploch foi flagrado dando um soco em um homem que seria estudante da Uerj. Em outro ângulo, foi gravado também que uma pessoa ao lado revidou os socos e atingiu o parlamentar. Com ânimos exaltados, um segurança do gabinete do deputado estadual Rodrigo Amorim chega a colocar a mão na arma, sem tirá-la do coldre.

Por nota, Knoploch afirma que, ao lado de Rodrigo Amorim, tentou "de todas as formas um debate saudável" e que além de agressões verbais foi, ao fim, "cercado e agredido fisicamente":

— Só conseguimos ir embora com o auxílio de nossos seguranças e policiais militares que estavam na Uerj. Repudio toda e qualquer forma de agressão e antidemocracia.

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Pelas redes sociais, a deputada Renata Souza (PSOL) chamou os parlamentares de racistas e se posicionou a favor do atual sistema de cotas raciais.

"Hoje é dia de fazer a casa grande estremecer. Os racistas estão na Uerj gritando e batendo na mesa. Podem gritar. Atura ou surta. A Universidade pública é do povo e as cotas raciais ficam. #CotaSim #UerjResiste", escreveu.

Bate-boca

O bate-boca teve início quando o parlamentar Rodrigo Amorim (PSL) solicitou que tocassem o hino nacional para o início das discussões. O deputado Waldeck Carneiro (PT) então pediu a palavra e afirmou que a obrigatoriedade do hino se dá apenas em sessões solenes.

Outro momento de discussão se deu quando Amorim tentou pegar o microfone das mãos de uma professora que falava no momento. A ação gerou revolta dos estudantes, que xingaram os parlamentares do PSL.

"O segurança visto no vídeo da TVT levando a mão à cintura, é, com efeito, integrante do gabinete do deputado estadual Rodrigo Amorim e tem autorização para portar arma", explica a assessoria de imprensa de Amorim.

O deputado afirmou lamentar as "ameaças, ataques e agressões sofridas por duas assessoras" e confirma que irá requerer, junto com o deputado Knoploch, a anulação de toda a audiência realizada na Capela Ecumênica da UERJ.

— (O segurança) Demonstrou perícia e prudência, preservando a integridade física daqueles que ele precisava proteger e ao mesmo tempo segurando a arma, evitando que a mesma fosse tomada por algum dos manifestantes, todos furiosos e dispostos a agredir fisicamente quem quer que se opusesse a eles — comenta Amorim sobre a confusão.

Quebra de decoro

As cinco comissões que compunham a audiência preparam nota conjunta em que o teor será de rejeição a uma "lógica de violência" na Alerj. Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, o deputado Waldeck Carneiro (PT) criticou a ação dos colegas de Casa Legislativa.

— É inaceitável que deputados pretendam impor o ponto de vista na força, ou inconformados com eventuais preterimentos queiram inviabilizar uma determinada atividade. Ali se sabia, ninguém é idiota, que o auditório era maciçamente constituído de estudantes que defendem o sistema de cotas. Os deputados foram lá com todo o direito, frente a diversidade e podiam fazer a defesa da argumentação. Mas me pareceu que foram para provocar confusão e inviabilizar a própria audiência pública — comenta Carneiro.

Na nota, os parlamentares pretendem provocar o presidente da Casa, André Ceciliano (PT), para que a Corregedoria seja acionada. Segundo Carneiro, há elementos materiais de quebra de decoro parlamentar.

Em assembleia realizada na terça-feira os professores da Uerj soltaram uma moção de repúdio à confusão. Em nota, afirmam que os deputados do PSL solicitaram auxílio da Polícia Militar "sem autorização da Reitoria da Uerj" e colocaram "em risco a comunidade universitária ali presente, na sua maioria estudantes."

Em nota, o PSL afirmou que é "lamentável uma instituição de ensino, sustentada com recursos públicos, não permitir a diversidade de opiniões. Os deputados Rodrigo Amorim e Alexandre Knoploch foram hostilizados desde que chegaram à Uerj. Demonstração de que os grupos ligados a PT e PSOL não admitem divergência ideológica, e incentivam suas militâncias a terem comportamento reprovável. O PSL-RJ repudia violência e a velha prática dos esquerdistas de se fazerem de vítimas".

Projeto de lei gera polêmica

De acordo com a Lei 4.151/03, o sistema de cotas determina que sejam reservadas pelo menos 20% das vagas de cada curso às pessoas negras, indígenas e oriundas de comunidades quilombolas. No ano passado a Alerj aprovou a prorrogação da lei por mais 10 anos.

No olho do furacão, está o projeto de lei 470/19, do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL), que visa extinguir as cotas raciais nas universidades estaduais. A audiência pública é um dos momentos necessários para a comissões discutirem e darem o parecer.

— Acho uma aberração o projeto, condeno o conteúdo. Mas não há inconstitucionalidade. Será tramitado, passa pelas comissões temática e depois chegará ao plenário — comenta Carneiro.

Na última quarta-feira a Assembleia Legislativa do Rio votou o projeto que criaria uma CPI para investigar as universidades estaduais. Por 31 votos contrários, 17 favoráveis e sete abstenções, foi rejeitada. O autor era o parlamentar Knoploch.h.

 

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