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Parlamento partido: Início de mandato de 64 deputados é marcado por racha dentro da Alerj

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RIO — Um dia depois de a Justiça decidir que ficará com a presidência da Assembleia Legislativa a responsabilidade de dar ou não posse a seis deputados presos, os novos representantes do Legislativo fluminense foram empossados sexta-feira numa cerimônia marcada pelo constrangimento, num Palácio Tiradentes totalmente dividido. De 32 deputados ouvidos pelo GLOBO — metade dos 64 parlamentares empossados —, 16 disseram ser contrários à posse dos políticos que estão na cadeia e 16 apoiam os colegas (6) ou lavaram as mãos (10), não opinando ou alegando que preferem deixar o “abacaxi” com o Judiciário ou coma Mesa Diretora.

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Entre os que defenderam a posse está Pedro Brazão (PR), eleito para o primeiro mandato. Ele é irmão do ex-deputado e ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Domingos Brazão, um dos presos em 2017 após denúncias de pagamento de propinas a conselheiros do TCE.

—Todo cidadão, que não foi julgado e condenado, tem direitos. Os deputados estão se defendendo, mas a Justiça é lenta— argumentou.

Com Brazão, fizeram coro Carlos Minc (PSB), Vandro Família (Solidariedade), Zeidan (PT), Daniel Librelom (PRB) e Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB). Alguns foram mais exaltados nos argumentos.

—O Judiciário está passando dos limites em prisões sem provas — disse Zeidan.

Outros ponderaram, como Luiz Paulo:

— Sou a favor de que sejam empossados porque esta foi a decisão da Justiça. Mas defendo que não façam nomeações para os gabinetes e não recebam salários.

Minc deu sua explicação.

— Da outra vez, votei pela manutenção da prisão do Picciani (Jorge) e companhia porque havia denúncia robusta do Ministério Público. Ainda não recebemos esse tipo de material — justificou.

O deputado André Ceciliano (PT), cotado para assumir a presidência, não quis falar, e Chico Machado (PSD) disse que precisa se inteirar mais sobre o tema. Já Bruno Dauaire (PRP), Renato Zaca (PSL), Gustavo Tutuca (MDB), Marcelo Canella (MDB), Max Lemos (MDB) e Márcio Pacheco (PSC) afirmaram que cabe à Mesa Diretora se posicionar. Tia Ju (PRB) e Dr. Deodalto defendem que a Justiça bata o martelo. Deodalto foi sincero:

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— A Justiça vai condená-los ou liberá-los. Minha dificuldade para opinar é que há colegas que trabalharam comigo.

No bloco dos que esperam posição mais dura da Casa, está Chicão Bulhões (Novo):

— Deputado tomar posse na cadeia é uma mensagem muito ruim para a sociedade.

Também se manifestaram da mesma forma: Bebeto (Podemos), Martha Rocha (PDT), Alexandre Freitas (Novo), Márcio Gualberto (PSL), Coronel Salema (PSL), Filippe Poubel (PSL), Anderson Moraes (PSL) Renan Ferreirinha (PSB), Renata Souza (PSOL), Alana Passos (PSL), Flávio Serafini (PSOL), Eliomar Coelho (PSOL), Monica Francisco (PSOL), Dani Monteiro (PSOL) e Rodrigo Amorim (PSL).

Em comum, eles têm a tese da moralidade. Salema (PSL) foi um dos que adotou o discurso.

— Não tem nada que assumir. Seria imoral — defendeu.

Presente, o governador Wilson Witzel se manteve à distância do impasse:

— Quem tem que considerar se é imoral ou não é o presidente da Alerj.

O futuro dos políticos será discutido neste sábado, após a eleição da Mesa Diretora, à tarde. Tudo indica que André Ceciliano (PT) deve ser eleito em chapa única, já que não houve consenso para montar uma candidatura adversária.

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O imbróglio, além dos aspectos práticos, deixou um clima esquisito na posse porque o nome dos presos era chamado no microfone, como mandava o protocolo da cerimônia. A solenidade teve ainda a Enfermeira Rejane (PCdoB) que gritou “Lula Livre”, arrancando vaias, e o coronel Salema (PSL), que foi, orgulhoso, vestido com o uniforme de gala da Polícia Militar. Flávio Serafim e Renata Souza (ambos do PSOL) levaram placas para lembar a vereadora Marielle Franco, assassinada no ano passado. Rodrigo Amorim (PSL) exaltou o senador Flávio Bolsonaro (PSL) — que se viu envolvido numa crise provocada por um relatório do Coaf sobre movimentações atípicas em suas contas bancárias —, dizendo que ele é o maior líder político do Rio.

Estão presos André Corrêa, Chiquinho da Mangueira, Marcus Vinícius Neskau, Marcos Abrahão, Luiz Martins e Wanderson Gimenes.

 

O Globo

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