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FactCheckLab: Programa de governo de Renata Souza (PSOL) não incluiu ‘kit gay’ e ‘liberação de drogas’

· Campanha 2020

No primeiro turno das eleições deste ano, o candidato à prefeitura do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (Republicanos) reacendeu uma polêmica de 2018. Em debate na Band em 1º de outubro, Crivella afirmou que, caso Renata Souza, candidata do PSOL, fosse eleita, ela implementaria o “kit gay” nas escolas da cidade.

Crivella disputa o segundo turno contra Eduardo Paes (DEM). Renata teve 3,24% dos votos na capital fluminense em 15 de novembro.

Como parte do FactCheckLab, a Lupa analisou a afirmação de Crivella e concluiu que ela é falsa. Confira:

“Se o PSOL ganhar a eleição (…), vai ter ‘kit gay’ na escola e vão induzir a liberação das drogas
Marcelo Crivella (Republicanos), candidato a prefeito do Rio, durante o debate da Band em 1º de outubro de 2020

FALSO

O assunto mencionado pelo atual prefeito remonta a um discurso que tomou conta das eleições presidenciais de 2018, quando o então candidato Jair Bolsonaro (sem partido) dizia que Fernando Haddad (PT) tinha instituído o “kit gay” durante sua gestão como ministro da Educação (2005-2012). O projeto a que Bolsonaro se referia, porém, era o Escola Sem Homofobia, que não era destinado a crianças nem sequer foi implementado, devido ao veto da ex-presidenta Dilma Rousseff.

O programa de governo registrado por Renata Souza no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não cita o “kit gay”, tampouco o Escola Sem Homofobia. O projeto também não previa qualquer ação que incentiva a sexualização de crianças ou a liberação de drogas. O que a candidata propõe é a criação de um programa de formação continuada de professores para combater a LGBTfobia na educação.

Esquecido, ‘kit gay’ volta a ser assunto na eleição

Relembrado por Crivella durante o primeiro debate eleitoral de 2020, o tema “kit gay” praticamente não era mencionado pelos principais políticos da capital fluminense nos últimos tempos. De acordo com monitoramento realizado pela Lupa pela ferramenta CrowdTangle, somente um dos 51 vereadores que tentavam a reeleição na cidade havia mencionado as expressões “kit gay” ou “ideologia de gênero” em publicações em redes sociais nos meses de julho e agosto: Alexandre Isquierdo (PP). Também não havia menções dos temas nas páginas e perfis dos 13 candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro.

Mas, entre 26 de setembro, data de confirmação das candidaturas, e 16 de outubro, as expressões já haviam voltado a circular. Os termos exatos ou semelhantes foram vistos pelo menos em seis publicações, nos perfis de Alexandre Isquierdo (PP), Renato Cinco (PSOL), Tarcísio Motta (PSOL), Bispo João Mendes (Republicanos) e Elitusalem Gomes Freitas (PSC). Todos tentavam a reeleição.

Vale mencionar que o teor das postagens incluindo os termos relacionados ao “kit gay” muda conforme a filiação político-partidária. No caso dos candidatos mais alinhados à direita, as publicações assumem tom oposição à comunidade LGBT+, como na de Alexandre Isquierdo ou na de Elitusalem Gomes de Freitas. Já candidatos auto-identificados como à esquerda do espectro político têm postagens que respondem a ataques ou defendem a comunidade LGBT+, como é o caso de Tarcísio Motta (PSOL) nest post e da própria Renata Souza (PSOL), criticada por se esquivar da pergunta de Crivella no debate da Band.

Nota da redação: Essa checagem faz parte do programa FactCheckLab, uma realização da Lupa, através do LupaEducação, com patrocínio da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil. Cerca de 100 jornalistas, de todas as regiões do Brasil, participaram de treinamentos em jornalismo e checagem de fatos e apresentaram propostas de iniciativas de fact-checking regionais, com o objetivo de fomentar a checagem de fatos hiperlocal no Brasil. Cinco projetos, um de cada região, foram escolhidos pela comissão julgadora como vencedores do programa. Samuel Costa e Thayz Guimarães são do Rio de Janeiro e representam a região Sudeste.

Editado por: Marcela Duarte e Natália Leal

Folha de São Paulo

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