Sargento da Marinha que disparou quatro vezes contra vizinho negro é indiciado por homicídio ‘sem intenção de matar’
Polícia entendeu que Aurélio Alves Bezerra não teve intenção de matar ao “confundir” a vítima com assaltante em condomínio no Rio. Acusação provoca protestos nas redes. “Racismo estrutural o matou e o racismo institucional absolveu seu assassino”
São Paulo – Manifestações de repúdio e pedidos de justiça tomaram as redes sociais nesta sexta-feira (4) com a repercussão do indiciamento do sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, preso em flagrante nesta quinta (3) pelo assassinato de seu vizinho Durval Teófilo Filho. Ele foi acusado por homicídio culposo – quando não há intenção de matar – pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) do Rio de Janeiro. O que provocou revolta entre os internautas que emplacaram o termo “culposo” entre os assuntos mais comentados no Twitter, com mais de 8 mil menções – até o fechamento desta nota.
O crime ocorreu na noite anterior, quarta (2), quando o repositor Durval, um homem negro, chegava em casa do trabalho, um condomínio onde morava há 12 anos em São Gonçalo, e foi alvejado com três disparos por Aurélio. Imagens de câmeras de segurança mostram que o repositor mexia na mochila, enquanto tentava abrir o portão, quando foi abordado pelo militar na entrada do condomínio. Na sequência, de dentro do carro, Aurélio efetua disparos contra a vítima e o atinge na barriga. Mesmo já ferido e avisando que era morador, o sargento desembarca do veículo e atira novamente, acertando o abdômen de Durval que já estava caído no chão. Um terceiro tiro é efetuado, mas não acerta o repositor.
‘Foi racismo’
“Ele atirou na vítima em reação a uma suposta tentativa de assalto, enquanto a mesma caminhava e mexia em sua mochila. Ao constatar seu erro, o acusado prestou imediato socorro a Durval, levou para um hospital, mas ele não resistiu”, comunicou em nota a Polícia Civil. A corporação também estipulou uma fiança no valor de R$ 120 mil a Aurélio que, segundo informações do UOL, permanece detido desde ontem.
Durval deixou uma filha de 6 anos e a mulher, Luziane Teófilo, com quem era casado há 13 anos. “Vendo as câmeras, ouvindo a fala do delegado e pelo que os vizinhos estão falando, tenho certeza de que isso aconteceu porque ele é preto. Mesmo eles falando que ele era morador do condomínio, o vizinho não quis saber. Para mim, foi racismo sim”, afirmou a viúva da vítima ao veículo.
Despreparo no uso de armas
A deputada estadual Renata Souza (Psol-RJ) também questionou o indiciamento de Aurélio por homicídio culposo. “Durval já estava alvejado e levou tiros já no chão. Não há intenção de matar? O racismo estrutural o matou e o racismo institucional absolveu seu assassino”, tuitou a parlamentar. O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) também destacou que o repositor “é mais uma vítima do racismo”. “Esse homem, trabalhador, honrado, foi assassinado porque o racismo construiu a mentalidade de que um negro parado é culpado. Sociedade doente”, lamentou.
Internautas também apontaram que o crime contra Durval mostra o impacto de mais armas de fogo em circulação, um projeto defendido pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. “Um sargento da marinha, treinado, matou o vizinho pois achou que era um assaltante. Imagina o ‘cidadão de bem’ mal treinado e com acesso a arma”, contestou um internauta.
O indiciamento de Aurélio Alves Bezerra ainda pode ser alterado em até 30 dias, após audiência de custódia ou se o delegado responsável pelo caso entender que o crime deve ser enquadrado como homicídio doloso, quando há intenção de matar.
Rede Brasil Atual
r.