‘Quem tem direito à dignidade?’: parlamentares apontam racismo na condução de MC Poze à prisão
A Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu, nesta quinta-feira (29), o cantor de funk Marlon Brandon, conhecido como MC Poze do Rodo. Sem oferecer resistência, ele foi conduzido algemado, sem camisa e descalço.
Em nota, a Polícia Civil informou que Poze é investigado por apologia ao crime e envolvimento com o Comando Vermelho (CV), e que a ação cumpriu um pedido de prisão temporária emitido pela Justiça.
Nas redes sociais, parlamentares negras destacaram a desproporcionalidade do tratamento policial dado ao artista. Para a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), a abordagem foi “desumanizadora”.
“Quando PMs são presos por estuprar uma jovem dentro da viatura, a Justiça Militar absolve. Quando um juiz comete violência doméstica, é ‘punido’ com a aposentadoria. Esse tratamento que Poze do Rodo recebeu hoje não tem nada a ver com os crimes pelos quais ele é acusado”, afirmou a parlamentar.
A vereadora e líder do PSOL na Câmara de Vereadores do Rio, Thais Ferreira, aponta que a atuação da polícia demonstra o tratamento do Estado aos jovens negros.
“MC Poze foi preso algemado, sem camisa, descalço, mesmo sem apresentar resistência ou perigo. A forma como ele foi tratado diz muito sobre o que o Estado reserva para corpos negros e favelados. Não se trata de inocência ou culpa, mas de dignidade — que tanta gente ainda cisma em arrancar à força dos nossos”, defendeu.
A deputada estadual Monica Seixas (PSOL-RJ) reforçou que no momento da prisão o MC não ofereceu nenhuma resistência. Mesmo assim, seus braços foram puxados para trás pelos policiais.
“MC Poze, um artista negro ainda que rico foi preso descalço, sem camisa, algemado e seus braços foram puxados pra trás mesmo sem ele esboçar nenhuma resistência. O que ele dizia é ‘meu braço está doendo pra caraca’. Contrasta com as cenas de como outros ricos em conflito com a lei são tratados”, destacou.
Dois pesos, duas medidas
A deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ) recordou que, no dia 23 de outubro, o ex-deputado Roberto Jefferson, que é branco, foi conduzido amigavelmente para a delegacia mesmo após disparar cerca de 20 tiros contra a Polícia Federal.
“De um lado, o dia da prisão de Roberto Jefferson, responsável por disparar tiros contra a Polícia Federal. Do outro, MC Poze do Rodo, cantor de funk preso por fazer baile nas favelas do Rio de Janeiro. Quem tem direito à defesa, dignidade e à Justiça no Brasil?”, declarou.
A vereadora Benny Briolly (PSOL) também lembrou que o contraventor Rogério de Andrade, apontado como o maior bicheiro do Rio de Janeiro, foi levado sem algemas de seu condomínio de luxo até a delegacia, em outubro do ano passado.
A referida ação cumpriu a ordem de prisão preventiva da 1ª Vara Criminal do Tribunal do Júri, por envolvimento no assassinato de Fernando Iggnácio.
“Essa comparação escancara o que a justiça finge não ver: no Brasil, a cor da pele e o CEP definem o tratamento que você vai receber da polícia. Qualquer pessoa que haja em desconformidade com a lei deve ser tratado pelo Estado da mesma forma”, defendeu a parlamentar.
pic.twitter.com/dfJQfMAO8z— Benny Briolly (@BennyBriolly) May 29, 2025
Alma Preta
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