Manifestantes se reúnem na orla de Copacabana contra PEC da Blindagem e anistia
O ato contou com a participação de artistas consagrados, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, entre outros
Rio - Milhares de manifestantes se reuniram na orla de Copacabana, na Zona Sul do Rio, na tarde deste domingo (21), contra a PEC da Blindagem, aprovada na Câmara na última semana, e à tentativa de anistia a envolvidos na trama golpista do 8 de janeiro. O ato contou com apresentações de diversos artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Ivan Lins, Lenine, Paulinho da Viola, Frejat, Maria Gadú e Marina Senna.
Ao longo dos shows, que aconteceram em cima de um trio elétrico, os cantores exaltavam frases como: "Salve o Brasil, salve a democracia, lutemos por ela sempre"; "Sem anistia e com democracia, esse é o Brasil". "Sem anistia e sem os bandidos do Congresso".
Sob sol forte, com o Rio atingindo nível 2 de calor após temperaturas alcançarem a máxima de 40ºC, protestantes também carregavam cartazes dizendo: "Centrão inimigo do povo"; "PEC da bandidagem não"; "Câmara do crime"; "Ainda estou aqui"; "Os piores deputados da história", entre outros.
Ao DIA, o estagiário de administração na Procuradoria Geral do Estado, Brendo Henrique, explicou considerar o ato revolucionário na democracia brasileira.
"É um ato que a gente deve reivindicar, correr atrás do nosso direito, sem anistia para Bolsonaro. Nossa cultura e nossa ancestralidade estão marcadas aqui hoje, não somente pelo ato musical, mas também pelo ato democrático. Todo esse povo brasileiro está vindo aqui hoje, não só na cidade do Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil e no mundo também. São conexões, são raças e são famílias, dependentes de um governo justo", disse.
Brendo também reforçou o que espera do governo atual. "A gente quer um governo que pensa nos pobres, pensa nos partidos trabalhadores e, além disso, pensa nas gerações futuras, trazendo dignidade, lazer, educação, saúde e, principalmente, sustentabilidade para a Amazônia e para a nossa natureza, que é o Brasil. O Brasil é rico, o Brasil tem potencial e o Brasil vai avante. É isso: sem anistia, já. Bolsonaro na prisão", explicou.
Outra participante, a dona de casa Maria José Venâncio, de 59 anos, contou ser a primeira vez que participa de uma manifestação.
"Eu estou vindo porque é muita pouca vergonha essa blindagem da bandidagem. Bandido só tem na comunidade?! Agora, eu acabei de crer que a bandidagem está dentro do planalto. É muito vergonhoso para o nosso país. Sou contra a anistia! E aqui não tem caravana paga, vindo de outros estados para superlotar. Aqui tem povão com o seu dinheiro, pagando só a passagem e vindo para defender o nosso Brasil, nossa soberania. Que aqui não tem ditadura, aqui nós somos livres!", destacou.
O professor Pedro Dorneles, de 32 anos, concordou com os demais manifestantes do ato e frisou que a medida é um momento importante para a história do país.
"A gente está nas ruas pra dar uma resposta em defesa da democracia, já que essa PEC foi criada para blindar aqueles que atacam a democracia, aqueles que querem ser protegidos pelos eventuais crimes que venham cometer e a gente não pode permitir isso. O Brasil já passou por uma série de golpes e mais esse, a gente não vai aceitar. Por isso que estamos nas ruas, no Brasil inteiro, para poder dar essa resposta a favor da democracia e colocar Bolsonaro na cadeia", ressaltou.
Quem também esteve presente foi a deputada estadual, Renata Souza (Psol), que revelou a insatisfação do povo brasileiro com com o Congresso Nacional.
"Não é possível a gente achar natural que deputados, que parlamentares, sejam vistos de uma forma que não respeite a lei. Não é possível que os seus camaradas tenham que decidir se eles podem ou não ser investigados. Hoje é o grito de revolta, de insatisfação, de indignação do povo, daquele que sofre todos os dias sem acesso à água, à saúde, à educação. Aqui é um basta. É um basta de impunidade!", disse.
Segundo a deputada, independente do cargo, aquele que cometer qualquer tipo de crime deve ser responsabilizado na forma da lei.
"Essa é a tentativa de blindar os deputados é uma afronta à Constituição Brasileira, é uma afronta àquilo que se diz que nós todos somos iguais perante a lei. É importante que a população tenha se levantando e vindo para a rua, é importante que os artistas e as figuras públicas também estejam mobilizados. Então, eu entendo que isso daqui é uma resposta do povo brasileiro ao absurdo que é ter um Congresso que vota medidas contra o nosso povo", relatou.
Além da capital fluminense, protestos acontecem ao longo do dia em mais de 30 cidades pelo Brasil, mobilizados por movimentos ligados ao PT e ao PSOL.
PEC da blindagem e anistia
Os atos mobilizados pela esquerda no país miram o Congresso, com críticas duras ao projeto da anistia a golpistas e à proposta de emenda à constituição que ganhou o apelido de PEC da Blindagem, por dificultar a responsabilização criminal de parlamentares.
A PEC foi aprovada pela Câmara dos Deputados na última terça-feira (16), com adesão massiva do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e também de outros partidos de oposição ao governo Lula. O PT, por sua vez, liberou a bancada e teve 12 deputados votando a favor da proposta no primeiro turno. Dois deles mudaram de posição na segunda rodada.
O texto diz que deputados e senadores só poderão ser presos em caso de flagrante por crime inafiançável, amplia o foro privilegiado e ainda restringe processos criminais contra os parlamentares.
Ela segue para aprovação do Senado. O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), relator da proposta, sinalizou que se posicionará pela rejeição.
Já o projeto de anistia ainda segue na Câmara. Na última quarta-feira (17), a Câmara aprovou urgência do tema. Na quinta-feira (18), o presidente da Casa, Hugo Motta, oficializou Paulinho da Força como relator do projeto.