Gizele Martins tem trinta e seis anos, cria do conjunto de favelas da Maré uma referência na comunicação comunitária onde se encontrou há vinte anos. Ainda no pré-vestibular entrou para o Jornal O Cidadão, jornal de grande circulação de notícias importantes para moradores mareenses. Se formou em jornalismo na PUC-RJ e não parou por aí, seguiu em frente como mestra em comunicação e mais recentemente é doutoranda em comunicação pela UFRJ. Gizele, também possui alguns livros publicados onde destaca e nós recomendamos fortemente o “Militarização em censura - a luta por liberdade de expressão Favela da Maré” (2019) que fala sobre o período que o exército esteve na Maré em dois mil e entre dois mil e quatorze mil e quinze.
Gizele também foi nossa companheira de gabinete. Lembra de sua amizade com Renata Souza desde os tempos do Jornal O Cidadão onde atuaram juntas e construíram amizade. “E companheira e irmã da comunicação comunitária nesses vinte anos. A gente atuou juntas no Jornal Cidadão. E pra mim a Renata é uma é um exemplo de mulher negra. Vem pautando a luta antirracista num outro lugar que é o lugar do governo do estado e eu aprendo também muito com ela sobre o que é luta então pra mim ter participado da mandata também foi importante. Enquanto militante, enquanto comunicador, enquanto profissional também.”
Trazer a Gizele Martins como destaque de favela neste mês é uma escolha que chega a ser óbvia te tanta frente que ela integra e contribui para construir. Seja na Maré, fora da Maré, dentro e fora do Rio de Janeiro ou mesmo em outros continentes! Gizele Martins é uma engajada na luta pela libertação do povo da Palestina onde esteve presente e com isso traz sempre importantes reflexões sobre a militarização da vida que ocorre em diversos países e que sentiu na carne durante o período de ocupação militar da maré. Incansável em denunciar os abusos ocorridos, leva essas denúncias para todos os cantos que tem oportunidade.
Em suas palavras “Hoje eu falo muito sobre a internacionalização da militarização e enquanto movimentos de favelas eu venho me conectando com esses movimentos de toda américa latina do sul global até a Palestina e ter ido da Palestina pra mim foi importante de tudo porque me fez entender que a violação que eu sofro não é uma violação local, né? Existem empresas, governos atrás disso e a gente precisa estar juntos internacionalizando a luta também.”
Toda essa representatividade que carrega vem dos mais de vinte anos que integra o movimento de favelas do Rio de Janeiro, pautando a segurança pública, o aumento da militarização, violência de gênero, remoções e liberdade de expressão que reflete na que faz.
Qualquer conversa que se tenha com a Gizele, ela marca muito bem sua origem de uma família de nordestinos, uma realidade de muitas favelas que conhecemos “ eu sou de um de uma família que vem do nordeste brasileiro eu tenho muitos irmãos e minha mãe faleceu quando eu tinha quatorze anos e eu fui criada pela minha avó.”
Ser jornalista comunitário é usar a comunicação como ferramenta de militância. Foi usando essa ferramenta que Gizele durante o período dos megaeventos no Rio de Janeiro circulou “muitas favelas denunciando as de remoções pegando depoimento de moradores e moradoras fotografando, escrevendo artigos participando de atos na porta da prefeitura, do governo. eh denunciando também os despejos das ocupações no centro do Rio, visitei todas elas e também circulei várias favelas que foram invadidas pela unidade de polícia pacificadora”. Jogar o nome da Gizele Martins no google é encontrar uma infinidades de atividades que não se cansa de participar pois está sempre em busca de dignidade e direitos para o povo favelado.
Gosta muito de ler, mas busca nas referências faveladas sua fonte de inspiração. Destaca Carolina Maria de Jesus como “o maior exemplo de escritora do mundo”. autora que re-lê ao menos uma vez ao ano. Nos tempos livres além de ler e ouvir música gosta de criar alternativas para sua luta. No auge da pandemia, construiu com a militância da maré um coletivo para minimizar os impactos da Covid-19 nas favelas. O resultado é um trabalho com forte atuação e luta contra a fome. “Movimentos sociais, de isso pra mim é uma fonte, pra mim de vida mesmo.”
Para fechar com chave de ouro a apresentação de nossa Destaque de favela, Gizele recebeu inúmeros prêmios ao longo dessa militância: em quase vinte anos de atuação já renderam aproximadamente 15 prêmios e homenagens pela atuação na comunicação e como defensora de direitos humanos. Se destacam a Medalha Pedro Ernesto pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, tem homenagem da Justiça Global, prêmio no Equador, Fiocruz e tantos outros merecidos prêmio.
Toda essa trajetória de vida linda e dedicada aos direitos humanos, a uma comunicação livre para o povo favelado, pelo fim da militarização e dos territórios negros e palestinos. Gizele Martins integra nosso hall de destaques de favela!