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Dia da Baixada, dia de celebrar a potência desse território de luta e resistência

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Dia da Baixada, dia de celebrar a potência desse território de luta e resistência

Renata Souza* e Juliana Drumond**

Dia 30 de abril é o Dia da Baixada. Mas há o que comemorar? Sim: a luta, a resistência, as potencialidades do bravo povo que reside nesse território. Quase sempre a Baixada chega às nossas casas pelos noticiários de forma negativa, seja pela ausência do poder público e o descaso com a população, seja com notícias sobre a violência cotidiana. Mas viver nesse lugar significa muito mais do que isso. E que bom que seja assim!

A riqueza da Baixada é o seu povo — ainda pouco reconhecido em sua potência — que carrega a certeza de que, com um poder público atuante em defesa do bem comum da população, será possível “dar uma virada”, investir em seus potenciais e recuperar seu território.

Enveredar Baixada adentro permite o reconhecimento da pujança dos centros comerciais, dos pontos finais das linhas de ônibus e das estações de trem. Aqui circula riqueza, criatividade, empreendedorismo, o suor de um povo que batalha contra tudo e contra todos para dar educação, saúde e dignidade para os seus filhos. Conhecer a Baixada por dentro é descobrir cidades trabalhadoras, cidades de mulheres trabalhadoras, em sua maioria negras e que, em rede, têm sobrevivido a partir da resistência coletiva.

Em tempos difíceis como estes de pandemia, o povo da Baixada, mais uma vez, é campeão em solidariedade. São centenas de projetos e ações sociais para garantir a segurança alimentar de quem tinha emprego e agora sofre por não conseguir “levar o pão” para a sua família. E não poderia ser diferente. A Baixada é o lugar da diversidade religiosa. Nesse território estão sediadas as mais diversas congregações pentecostais. Foi também na Baixada que se fortaleceu o trabalho de base de Dom Mauro Morelli e Dom Adriano Hipólito, e onde estão os terreiros mais antigos do Brasil, como o de Mãe Beata de Iemanjá e o de Joãozinho da Goméia, assim como é na Baixada o terreiro fundado por Yá Nitinha de Oxum, que muito orgulham esse povo preto, maioria absoluta do território.

É preciso valorizar o potencial da Baixada, que não pode mais ser negligenciada. Há as belezas naturais que ainda permanecem inexploradas, bem como potenciais de trabalho territorializado que devem ser levados em consideração, em especial para um processo de recuperação econômica pós-pandemia.

A sua forte tradição cultural, de quadrilhas juninas, folias de reis, pagode, rock e bailes funk, precisa gerar renda para que a população da Baixada possa consumir cultura no seu próprio território. Infelizmente, como ocorre em tantas periferias, a Baixada exporta talentos para o mundo na música, no teatro, cinema, mas isso não tem repercussão para dentro, o que acaba por não gerar autoestima na medida equivalente ao sucesso exterior.

É preciso investimento. O esforço cotidiano da população que trabalha duro nessa região do Estado do Rio de Janeiro precisa ser valorizado, com mais e melhores serviços públicos. A redução da desigualdade, por meio do investimento público, é parte relevante dessa solução.

*Renata Souza é deputada estadual (PSOL), presidente da Comissão Especial de Combate à Miséria e à Extrema Pobreza da Alerj, doutora em Comunicação e Cultura

**Juliana Drumond é mãe, professora, doutoranda em História pela UFRJ e dirigente do Sepe, núcleos de São João de Meriti e de Duque de Caxias