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Assessor parlamentar grava disparo de PM durante operação na Vila Cruzeiro; perito diz ser munição não letal

'Não perceberam que eu estava filmando', diz Thainã de Medeiros. Operação conjunta no Complexo de favelas da Penha deixou ao menos 25 mortos.

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Assessor parlamentar grava disparo de PM durante operação na Vila Cruzeiro; perito diz ser munição não letal

'Não perceberam que eu estava filmando', diz Thainã de Medeiros. Operação conjunta no Complexo de favelas da Penha deixou ao menos 25 mortos.

Um assessor parlamentar e moradores do Complexo de favelas da Penha foram alvos de disparos (veja no vídeo acima) de munição não letal de policiais enquanto faziam a vigília do corpo de um dos mortos na Vila Cruzeiro, Zona Norte do Rio. A ação conjunta na terça-feira (24) deixou 25 mortos.

Thainã de Medeiros, de 39 anos, ativista do Coletivo Papo Reto e funcionário do gabinete da deputada estadual Renata Souza (PSOL) na Assembleia Legislativa (Alerj), gravou o momento em que um policial faz o disparo contra ele e um grupo de aproximadamente 30 moradores.

"Eles [os PMs] não contavam que eu estava filmando, não perceberam que eu estava filmando, e que o tiro foi na minha direção. (...) ", afirmou ao g1 o assessor. 

Segundo Thainã, ele e os moradores estavam numa parte do complexo chamada Vacaria, um local que de acordo com o assessor fica numa parte mais "rural" e pobre do conjunto de favelas. Depois do disparo flagrado por ele, outros dois tiros de munição não letal foram feitos.

"Tinha esse corpo ali, que a galera disse que estava na mata. Eu subi com a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] e, em determinado momento, a gente entendeu que a Defensoria [Pública] estava chegando e que seria importante eles presenciarem aquele corpo, porque ele estava com visíveis marcas de execução", acrescentou Thainã.

O assessor disse que o rosto do cadáver tinha marcas de pó branco, e contou ter ouvido de moradores que o homem teria sido obrigado por PMs a comer cocaína. "A cara dele eu me lembro muito. A boca espumando...", acrescentou.

Thainã não soube dizer quem seria a homem, mas falou que uma irmã e a mãe da vítima apareceram momentos depois. Passados alguns instantes, a mãe teria decidido descer a favela com o corpo.

Munição não l

etal

Consultado pelo g1, o perito e professor titular Medicina Legal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Nelson Massini, disse, que pelas imagens, a arma empunhada pelo PM no vídeo se trata de um lançador de munição não letal.

O especialista constatou que o projétil "é grande e visível", e a quantidade de fumaça que aparece "é típica de arma que não tem recuperação de gases -- não automática". Segundo Massini, a posição do atirador também indica se tratar de um lançador.

A deputada Renata Souza, que está em Washington (EUA), comentou a gravação feita por Thainã. Ela disse que se tratam de "imagens contundentes da truculência" da política pública de segurança.

A Defensoria Pública do RJ, por meio da Ouvidoria-Geral da instituição, disse que vai analisar o material e que tudo será enviado aos órgãos de controle.

Em nota, a Corregedoria-Geral da Polícia Militar afirmou que vai acompanhar as apurações a cargo da Polícia Civil sobre as ocorrências da operação.

25 m

ortos

Ao menos 25 pessoas morreram durante uma operação policial na Vila Cruzeiro. A ação começou de madrugada e, segundo a Polícia Militar, foi encerrada por volta das 16h40 (veja mais no vídeo abaixo).

Polícias Militar e Rodoviária Federal fazem operação no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio

Segundo a PM, agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram atacados a tiros quando iniciavam uma “operação emergencial” na comunidade.

O objetivo era prender chefes do Comando Vermelho escondidos na Vila Cruzeiro.

A polícia afirma que lideranças da facção em outras favelas do Rio — como Jacarezinho, Mangueira, Providência e Salgueiro (São Gonçalo) — e até de estados do Norte e do Nordeste também estão abrigados na Penha.

Tiros começaram às quatro

da manhã

Moradores disseram que começaram a ouvir tiros às 4h. Houve relatos também de tiros no Complexo do Alemão, onde bandidos tentavam usar uma estrada de terra como rota de fuga.

“Quatro horas da manhã começou operação aqui na Vila Cruzeiro. Muito tiro, mas muito tiro mesmo. Os policiais do Bope entraram aqui com vários carros. E a bala tá comendo", afirmou um morador. Vídeos enviados ao Bom Dia Rio mostraram blindados entrando na comunidade.

Um helicóptero blindado da PM dava apoio aos agentes em terra. Os confrontos se concentravam na parte alta da Vila Cruzeiro, perto de uma área de mata.

Policiais apreenderam 13 fuzis, quatro pistolas, doze granadas e uma quantidade grande de drogas, que não havia sido contabilizada até a última atualização desta reportagem (veja imagem mais abaixo). Dez carros e vinte motos foram recuperados.

Escolas da rede municipal dos complexos da Penha e do Alemão precisaram ficar fechadas devido ao confronto, segundo a Secretaria Municipal de Educação.

'Realidade trágica', diz porta-

voz da PM 

O tenente-coronel Ivan Blaz, porta-voz da PM, disse que o objetivo da operação é localizar criminosos de outros estados que se escondem na Vila Cruzeiro.

  • Segundo Blaz, o Comando Vermelho, facção criminosa da Vila Cruzeiro, é responsável pela maior parte dos confrontos no RJ.

"Precisamos desbaratar essa quadrilha que já é hoje responsável por mais de 80% dos confrontos armados do Rio de Janeiro. Essa facção criminosa que opera ali na região da Vila Cruzeiro atua numa campanha expansionista em todo o nosso estado".

O tenente-coronel falou em "realidade trágica" ao comentar a morte da moradora da Chatuba.

"Estamos falando de um confronto armado em que se usam armas de guerra, munições de alta velocidade, que cruzam longas distâncias. Segundo informações, ela teria sido atingida logo no início da operação quando criminosos estavam atacando os policiais", afirmou.

"O sentido do tiro aponta para esse lado, a perícia já foi feita, já temos o corpo removido. Logicamente, esse resultado logo no início da operação já nos desestimula. Ele já é um fato lamentável, muito lamentável, uma família impactada por um resultado desse, violência."

G1

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