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Alerj concede Medalha Tiradentes à Base Aérea de Santa Cruz, onde presos políticos foram mortos e torturados na ditadura

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Alerj concede Medalha Tiradentes à Base Aérea de Santa Cruz, onde presos políticos foram mortos e torturados na ditadura

Local, segundo informações da Comissão Nacional da Verdade, foi palco de torturas e assassinatos de presos políticos durante o regime militar. Alerj concede medalha a Base de Santa Cruz

A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) concedeu nesta quinta-feira (5) a maior honraria do estado, a Medalha Tiradentes, à Base Aérea Militar de Santa Cruz.

O local, segundo informações da Comissão Nacional da Verdade – instrumento que investigou crimes da ditadura militar – foi palco de torturas e assassinatos de presos políticos durante o regime militar.

A proposta foi apresentada pelo deputado Samuel Malafaia, do Democratas. O projeto narra o histórico da base e cita o zepelim, construído na década de 1930 e que fica guardado lá.

Mas não há nenhuma menção ao período da ditadura militar. O texto da justificativa é exatamente igual ao de uma enciclopédia virtual. Deputadas do PSOL se manifestaram contra a homenagem.

Base Aérea de Santa Cruz

Reprodução/Google Street View

“Voto contrario da Medalha Tiradentes, diploma, porque entendemos e acompanhamos os trabalhos da CNV, que revelou para o mundo e para o Brasil como a base pode ter sido usada pela ditadura militar”, afirmou a deputada Renata Souza (PSOL).

“Sabemos que a proposição do Malafaia não tem a ver com essa questão. (…) É uma base importante, mas não podemos apagar o processo na democracia brasileira. Não queremos mais lugares de terror sendo laureados”, acrescentou a também parlamentar do PSOL Mônica Francisco.

A Comissão Nacional da Verdade, que investigou crimes cometidos durante a ditadura e o desaparecimento de presos políticos, apontou que a Base Aérea de Santa Cruz era um dos locais em que ocorriam torturas e ocultação de cadáveres.

Isso ocorreu, por exemplo, com o estudante Stuart Angel. Militares que atuaram na base durante a época afirmaram em depoimento que presos políticos eram transferidos da Base do Galeão para a Base de Santa Cruz encapuzados.

Um deles comentou que quem ia para Santa cruz não voltava. Disseram ainda que era comum o comentário sobre lançamento em alto mar de cadáveres transportados pelos aviões militares.

Em outro trecho, afirmaram que puderam observar, na cabeceira da pista, um enterro de um cadáver, que seria de Stuart Angel.

A comissão descobriu que ocorreram obras de ampliações das pistas de pouso entre 1976 e 1978. Uma fotografia da época revelou que no canteiro de obras em 1976 foi encontrado um crânio.

A perícia indicou que há, de modo geral, clara correspondência entre as imagens antes da morte de Stuart Angel e da ossada encontrada. E que o crânio, de fato, poderia ser do estudante.

a conclusão da análise pericial indicou que há, de modo geral, clara correspondência morfológica craniofacial entre as imagens

Stuart Angel era estudante de Economia e foi preso aos 26 anos, em 1971, após participar da luta armada contra a ditadura. Seu corpo nunca foi encontrado.

A mãe dele, a estilista Zuzu Angel, brigou com os militares na busca pelo corpo do filho.

Jornal Floripa