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A invisibilidade da mulher negra na política contemporânea

Candidaturas femininas esbarram em preconceitos enraizados

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A invisibilidade da mulher negra na política contemporânea

Candidaturas femininas esbarram em preconceitos enraizados

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), as mulheres negras representam 28% da população. Apesar de serem o maior grupo populacional, elas encontram barreiras para consolidar a participação na política. Em um espaço majoritariamente composto por homens brancos, as concepções racistas e machistas dificultam um lugar de destaque em posições governamentais. Nas eleições de 2020, apenas 8% delas foram eleitas ao Executivo Municipal.

Em consequência da baixa atuação neste meio, lideranças como Renata Souza, deputada estadual (PSOL) e primeira mulher negra a presidir a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), sentem um descaso com as mulheres negras no âmbito político. “Embora haja 56% de negros na população, os parlamentos não refletem essa maioria. Há uma falta de vontade política para reverter a situação, principalmente na questão de gênero”, diz.

Renata Souza, deputada estadual (PSOL), valoriza o aumento da participação política das mulheres negras para o exercício da democracia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Fernanda Santos, especialista em relações étnicos-raciais do Instituto Identidades do Brasil (ID BR), é necessário expandir o nível de influência das políticas negras sobre a população para ter reconhecimento. “Elas ficam à frente das comunidades locais, do clã familiar fazendo uma micropolítica. Isso não está refletindo como representatividade”, afirma. Além disso, ela destaca que a mulher negra tem que lidar com o racismo institucional no ambiente político, já que há uma padronização racial e de gênero na maioria dos candidatos eleitos e premiados.

Quem também pensa desta forma é a articuladora política do movimento “Mulheres Negras Decidem” Tainah Pereira. Ela declara que falta a compreensão da opinião pública de que este grupo social é capaz de reestruturar o país, ao mesmo tempo que o debate restrito é maléfico para que os direitos e pensamentos políticos sejam universais.

Segundo Fernanda, as mulheres, principalmente negras, carregam estigmas que se refletem no ambiente profissional. “Ela é ainda vista como um produto que está ali para servir e não alguém que tem um poder de decisão que possa expressar as ideias e trazer grandes contribuições para a sociedade em geral”, comenta. Outro problema é a invisibilidade delas em assuntos que vão além da raça e gênero. Renata Souza, por exemplo, tem doutorado na área da segurança pública, mas é pouco procurada para falar sobre o tema, o que mostra a seletividade racial e de gênero nos debates públicos.

Na tentativa de diminuir as desigualdades sociais, ações afirmativas são implementadas para promover oportunidades a populações historicamente privadas de acesso. É o caso da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que estabeleceu uma cota de 30% para a candidatura de mulheres nos partidos, porém, deixou de lado a classificação de gênero.

Embora existam projetos identitários que generalizam certas lutas por igualdade, Tainah acredita que a construção de um legado político passa por incentivos institucionais. “A ausência da definição de um percentual mínimo de candidaturas reservado a mulheres negras denota a importância da participação desse grupo social, justamente para garantir que suas demandas estejam contempladas nas iniciativas junto à Justiça Eleitoral e aos partidos políticos”, aponta.

Agência UVA Barra